Saiu na edição desta semana, do jornal Alto Alentejo, de Portugal, mais uma reportagem de autoria da jornalista portalegrense Bernadete Cavalcante.
Nesta reportagem a jornalista faz um relato das atividades realizadas em comemoração aos 250 anos de Portalegre do Brasil. (Fonte:blog Dito Bendito)
Eis o conteúdo da reportagem:
Durante sete dias Portalegre do Brasil viveu, em atividades diversificadas, momentos marcantes de comemoração da sua fundação. Contando o passado, vivendo o presente e construindo a história para que os seus filhos escrevam e os seus netos e bisnetos a contem no futuro.
Embora o calendário oficial elaborado pela Prefeitura de Portalegre, tenha definido como dia de festejos apenas uma semana, compreendida entre 26 de novembro e 08 de dezembro, 2011 foi um ano que poderia ser celebrado em todos os seus dias como o grande ano de pequena Portalegre potiguar.
A festa de aniversário aconteceu integrada à festa da padroeira do município; Nossa Senhora da Conceição, celebrada anualmente nessa mesma semana, visto que o dia dedicado à santa, 08 de dezembro, é o mesmo de fundação da Vila, desde 1761. E num misto de religiosidade, história, música, homenagens interatividade com a sua co-irmã portuguesa, Portalegre soprou 250 velinhas, pelos 250 anos de existência, uma cidade que apesar dois séculos e meio, pode ser considerada jovem, se nos reportarmos à história do mundo.
Mesmo não se constituindo num presente do poder público local, tampouco tendo recebido apoio cultural do município ou do estado para se materializar, o primeiro presente recebido por Portalegre, pelos seus 250 anos, foi o livro “Portalegre do Brasil; história e desenvolvimento”, uma edição alusiva e comemorativa a data, lançado em 15 de janeiro, pela jornalista Bernadete Cavalcante e o historiador Thiago Alves Dias, os quais associados a um seleto grupo de professores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e outros estudiosos da cultura do lugar, organizaram e publicaram com o apoio da UFRN, o referido livro, hoje já distribuído para todas as escolas do município e principais universidades do Brasil.
A programação oficial dos 250 anos elaborada de forma a permitir que a comunidade partilhasse das diversas atividades, começou dia 26 de novembro, com um encontro de bandas filarmônicas que se apresentaram na praça principal da cidade. Já no dia 27, a mesma praça transformou-se em templo, onde se reuniram para uma celebração os demais cultos religiosos do lugar, que rezaram em ação de graças por Portalegre e sua gente.
No dia 04 de dezembro efetivou-se a proposição do vereador Manoel de Freitas Neto, em homenagear 250 portalegrenses que se constituíram e constituem-se em cidadãos e cidadãs com contribuição relevante para a nossa história passada e presente. Comendas foram entregues a pessoas e famílias (inclusive “in memorium”), como forma de enaltecer o valor profissional cultural e político de cada um. O município também decidiu pela eleição da jovem mais bonita do lugar, quando no dia 05, nove garotas, com idade entre 14 e 20 anos, se apresentaram, em desfile, numa concorrência de beleza plástica. E no dia 05, as escolas públicas reeditaram uma parada cívica, apresentada em março 2008, que tinha como conteúdo uma cronologia de fatos e pessoas da história portalegrense.
Na manhã do penúltimo dia de festas, 07 de dezembro, a programação abre seu espaço da manhã, para professor Martinó Coutinho que, como pesquisador, proferiu palestra abordando seu estudo sobre Miguel Carlos Caldeira de Pina Castelo Branco, fundador da Portalegre brasileira. A palestra do portalegrense português pode ser considerada o momento de resgate da origem do nome do lugar, tendo em vista que foi a oportunidade da população conhecer, um pouco mais sobre o fundador da Vila, visto que a história de Portalegre, embora já disponha de acervo para tal ainda não está devidamente difundida e discutida entre os estudantes e a população.
A abordagem apresentada, segundo redação do professor com relação ao seu objeto de estudo, se intensificou a partir do seu legítimo interesse criado pela inesperada descoberta dos estreitos laços familiares dele com o fundador de Portalegre/RN, levando a curiosidade pessoal ao desafio de querer conhecer, mais profundamente, a personalidade do Juiz Miguel Carlos. Martinó Coutinho pode apresentar aos portalegrenses brasileiros um documentário em multimídia, com cerca de 50 minutos, o qual denominou “Miguel Carlos – Romance de uma Vida”.
A Câmara de Portalegre, que na administração política do Brasil se constitui na Casa de Trabalho do Poder Legislativo, realizou nesse mesmo dia uma sessão solene, onde aconteceu a vídeo conferência com a Câmara de Portalegre/Portugal e o município do Brasil apresentou para os irmãos portugueses, a banda Filarmônica Portalegrense e estudantes da Escola Municipal Filomena Sampaio de Sousa, também mostraram uma dança portuguesa, dançada com o “molejo” brasileiro. A aniversariante foi saudada pelos patrícios com palavras de incentivo a maior efetivação dos laços que unem as duas cidades, proferidas pela presidente Adelaide Teixeira, como também com um caloroso “Parabéns para você!”, cantado com o inigualável sotaque português, por todos que participavam do momento interativo.
A mesma solenidade foi também o momento de entrega de cinco títulos de cidadão portalegrense para pessoas que contribuem com o desenvolvimento, crescimento e cultura local. E, dentre os homenageados estava o professor Martinó Coutinho, agraciado com o título de cidadão portalegrense/brasileiro, o qual não deixa de ser extensivo a todos os irmãos portugueses.
E sobre a homenagem recebida e a relação que une as duas Portalegre, o professor nos concedeu a seguinte entrevista:
Como o Senhor recebe essa homenagem, tornando-se um portalegrense brasileiro?
Recebo a homenagem relativa à concessão do título de cidadão portalegrense/brasileiro com um misto de orgulho e de humildade. Sinto-me alvo duma invulgar generosidade, que devo partilhar com todos os amigos portalegrenses portugueses que sentem como eu, o significado de uma sincera aliança entre as duas Portalegre’s, em boa hora desencadeada desde 2004. Naturalmente, esta nova condição renova em mim o entusiasmo que sempre tenho colocado ao serviço duma cada vez mais consistente fraternidade entre as duas comunidades irmãs. E cria-me responsabilidades que devo enfrentar com crescente energia.
Qual a sua impressão de Portalegre, como cidade histórica?
Portalegre RN tem metade da idade cronológica da outra minha Portalegre, a alentejana. O contexto histórico em que ambas viveram a sua existência também é muito diverso. Os meus parâmetros de apreciação histórica da vossa realidade são, portanto, imperfeitos. Mas posso assinalar a convicção de que aí se processaram uma vida e uma evolução comunitária, social, política e cultural de que Portalegre RN legitimamente se orgulha, com figuras que se destacam, com acontecimentos marcantes num percurso que dispõe duma crónica conhecida. Acho que é sempre interessante avançar no estudo dessa crónica, inserida no contexto na História do Rio Grande do Norte e do próprio Brasil. Creio que isso, embora devagar, está a acontecer.
A minha apreciação pessoal, embora limitada, faz-me crer, também, que existe em Portalegre RN um grande apreço pelos vestígios históricos marcantes, ainda que nem sempre seja possível, numa escala de prioridades sempre exigentes, recuperá-los tão depressa ou tão perfeitamente quanto seria desejável. Por outro lado, é nítida a preocupação de implantação de novos marcos comemorativos que pretendem salvaguardar memórias, em termos de futuro.
Em que o nosso município precisa avançar para desenvolver-se mais turisticamente?
Julgo não me enganar afirmando que o desenvolvimento turístico de Portalegre RN voltado para o exterior é uma preocupação relativamente recente. Acho que, atendendo ao seu relativo isolamento, a cidade possui já estruturas apreciáveis. Por exemplo, destaco o Hotel Portal da Serra, o Terminal da Bica ou o Mirante. Outras atracções, talvez ainda menos organizadas ou menos procuradas, como a Cachoeira do Pinga, o Castelo, a Ponta da Serra, as magníficas panorâmicas, os percursos naturais e tantos outros motivos de interesse turístico constituem um significativo potencial. Porque estive ligado, como colaborador, à região de Turismo portalegrense portuguesa, sei das dificuldades e da lentidão com que se promove uma zona, mesmo plena de atractivos. A recente constituição do Pólo Serrano significa a criação de uma estrutura colectiva apta a desenvolver, progressivamente, todo o potencial aí existente. Tenho a felicidade de conhecer personalidades como Lúcio Dantas ou Ramzi Elali, o que significa saber que, ao nível estatal, a riqueza turística de Portalegre RN não passou nem passará despercebida. E isto é um firme sinal de esperança.
Que caminho o Senhor aponta para o estreitamento dos laços que unem as duas cidades?
Assinámos oficialmente, com se sabe, um Protocolo de Geminação. Mas creio que, a este nível, apenas Portalegre RN manteve viva a chama de tal gesto de fraternidade. Sempre me emocionou ver, pela imagem, que qualquer acontecimento marcante da vossa vida comunitária conta sempre com a bandeira do nosso município em lugar de honra. Nunca fomos por vós esquecidos, embora a natural contrapartida nunca fosse oficialmente entre nós levada a sério. Contamos actualmente, e desde há pouco, com uma responsável autárquica culta, sensível e genuinamente interessada. Acredito que este acontecimento festivo possa, portanto, marcar o início duma nova era de estreitamento oficial da fraternidade prometida e até hoje nunca cumprida.
Naturalmente, entre os portalegrenses portugueses que mais se empenharam na iniciativa que nos uniu, a partir de 2004, sobretudo Bentes Bravo, Manuel Isaac, Albano Silva ou Luís Pargana, nunca se extinguiram, bem pelo contrário, os puros sentimentos recíprocos que se criaram e depois se aprofundaram.
Repito a minha confiança, apesar da crise que nos afecta, no próximo e futuro estreitamento dos laços que nos unem. Depois, há que “inventar” os instrumentos para operacionalizar a renovada aliança...
Em termos educacionais, o que poderia ser feito para que as novas gerações possam conhecer mais profundamente a história das duas Portalegre?
Como professor, tenho alguma dificuldade em acreditar que tal tarefa possa ser confiada exclusivamente às estruturas educativas. Embora haja exemplos soltos muito meritórios, sobretudo iniciativas de uma professora portuguesa (Maria do Céu Barreto) que, em duas diferentes escolas locais, teimou em travar com a vossa Escola Filomena Sampaio de Souza uma saudável e interessante relação, é difícil generalizar práticas deste género. Portanto, creio que terá de ser ao nível do intercâmbio cultural mais vasto, que as novas tecnologias da comunicação podem permitir e facilitar, que o recíproco conhecimento se deve incentivar. A Portalegre portuguesa, pelo seu avanço histórico, dispõe de diversas estruturas sócio-culturais (associações, bibliotecas, museus, etc.) que podem incentivar este intercâmbio que, a meu ver, teria o maior interesse para um melhor conhecimento mútuo, ultrapassando mesmo os domínios da História.
O dia 07 também se destacou pelo lançamento do selo postal comemorativo aos 250 anos, viabilizado graças a parceria da Prefeitura com a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, o que perpetua na filatelia do nosso país, e do mundo, um exemplar de grande relevância. À noite, a cantora Joana, uma grande expressão da nossa música popular, fez show no largo da igreja, agraciando o público com seu repertório eclético. E na manhã de quarta-feira, com a população envolta em seis dias de comemorações de aniversário e de louvação a sua padroeira, a Prefeitura fez o lançamento da placa contendo os 250 nomes dos portalegrenses condecorados anteriormente.
Materializando assim, para a cidade e os visitantes, um pouco da história da terra, relatando a sua gente e um pouco dos seus feitos. Como vereador proponente da homenagem, Manoel de Freitas Neto falou da sua iniciativa e, sobretudo, preocupação, para que dentre os escolhidos não houvesse injustiça e, mesmo com todo o cuidado da comissão que se encarregou de fazer o levantamento dos nomes, certamente ficou impossível agraciar a todos, visto a limitação do número 250, em alusão ao número de anos. Mas, todos sabem que Portalegre vai bem além de apenas 250 nomes. Na verdade seus mais de 7 mil habitantes tem, individualmente, a sua importância e contribuição enquanto cidadão.
E a festa terminou como começou, com música e preces, com a nossa gente acreditando que o apagar das velas simboliza o acender de esperanças de um município que, com a sua beleza e história, se credita a ocupar, a cada dia, lugar de destaque no Rio Grande do Norte. Esses 250 anos também determinam que seja competência de cada um de nós, filhos desse pequeno lugar, a responsabilidade de mostrar a sua grandeza.
Parabéns para nós, nesta data querida!
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