A manutenção da qualidade da água adequada para o consumo implica em adotar medidas
a fim de evitar contaminações, as quais dividem-se, basicamente, em dois grupos: a adoção de
ações que visam criar uma barreira física aos possíveis contaminantes e a aplicação de
tratamentos da água da cisterna.
Quando a água é oriunda de água de chuva e de caminhões pipa, com a garantia de ser
potável, as medidas que fornecem uma barreira física aos contaminantes e a manutenção
adequada da cisterna, em geral, são suficientes para manter a qualidade da água. Cuidados de
limpeza e manutenção do sistema de coleta; limpezas periódicas da cisterna; utilização de
dispositivos de “primeira descarga”, conforme descrito por RUSKIN (2002), que joga fora os
primeiros litros de água de chuva coletados; verificação de rachaduras; problemas com as
tampas e possíveis entradas de contaminantes; cuidados com a operação de retirada da água
da cisterna para consumo, evitando-se o uso de baldes e cordas; telamento de todas as áreas de
entrada ou saída da cisterna, são medidas básicas que devem ser adotadas pelo usuário da
cisterna, na busca da manutenção da qualidade da água armazenada.
No entanto, mesmo adotados todos estes procedimentos, é prudente tratar a água da
cisterna antes de usá-la, principalmente nos casos em que não se tem a garantia de que a
cisterna é abastecida apenas por água de chuva, ou que não se tenha a garantia da potabilidade
da água de carros-pipa, adotando-se a filtração e a desinfeção como métodos de tratamento. O
TEXAS GUIDE TO RAINWATER HARVESTING (1997) recomenda a filtração e alguma
forma de desinfeção como tratamento mínimo da água para ser usada para consumo humano,
podendo ser usado o processo de fervura da água durante cerca de 5 minutos.
O processo de filtração pode ser realizado no ponto de entrada da água na cisterna e/ou no
ponto de saída ou uso da cisterna. No primeiro caso, podem ser utilizados filtros simples de
areia e cascalho; já no ponto de saída, RUSKI (2002) recomenda filtros como o de sedimentos
e os de carvão, que utilizam camadas de cascalho, carvão pisado em pó, areia fina e areia
grossa, adequadamente dispostos em camadas.
A desinfeção é um processo físico de destruição de microrganismos presentes na água,
que, mesmo filtrada, ainda pode contê-los. O processo mais comumente utilizado é a Cloração
que usa o cloro como agente desinfetante, por ser um método simples, mais econômico, de
fácil disponibilidade, pela solubilidade do cloro na água, por períodos mais prolongados de atuação e pela excelente eficiência no controle de doenças transmissíveis pela água. A
cloração da água da cisterna pode ser realizada com o uso de cloro líquido, como o hipoclorito
de sódio encontrado na água sanitária ou produtos de cloro sólido como o hipoclorito de
cálcio, em grânulos e em pastilhas ou tabletes. A eficácia da cloração depende de fatores
como: o tempo de contato do cloro com a água, que deve ser de, no mínimo, 30 minutos; o
cloro residual livre, que em soluções alternativas de abastecimento é de 0,5 mg de cloro por
litro de água, após ter recebido uma dosagem de 2,0 mg/L durante a cloração; e a turbidez da
água, a qual deve ser de no máximo 1 UNT (unidades de turbidez).
É importante salientar que a utilização da cloração, embora seja de fácil aplicação e
eficácia na prevenção de doenças de transmissão hídrica, pode originar a contaminação da
água por trihalometanos (THMs), que são subprodutos cancerígenos, resultantes da reação
química do cloro com substâncias orgânicas em decomposição, como restos de folhas, restos
de animais mortos e matéria fecal. Assim, considerando também a eficiência do cloro em
função da turbidez, torna-se ainda mais importante a utilização de barreiras físicas na cisterna,
bem como a realização do tratamento por filtração, antes do tratamento da cloração, a fim de
evitar a presença de matéria orgânica na água e, consequentemente, os trihalometanos, após a
desinfeção.